O que Herdamos sem Perceber: A Herança Emocional entre Gerações
- sofiarodrigues90
- Nov 7
- 2 min read

Sabemos que herdamos características físicas dos nossos pais e avós, desde o formato do rosto, o tom de voz, a forma de sorrir. Mas herdamos também maneiras de sentir, de reagir e de nos relacionarmos. Estes legados invisíveis fazem parte do que chamamos de herança emocional ou transgeracional, um conjunto de padrões, crenças, feridas e modos de lidar com a vida que passam de geração em geração.
Os legados familiares referem-se às mensagens, valores e dinâmicas emocionais que se transmitem dentro da família, muitas vezes sem consciência.Podem ser positivos, como a força, a resiliência ou o sentido de humor, mas também podem incluir medos, silêncios, lealdades inconscientes e feridas emocionais não resolvidas.
Já os traumas transgeracionais são experiências de dor, perda, violência ou humilhação vividas por gerações anteriores, que não foram integradas ou elaboradas, e que acabam por deixar marcas emocionais nas gerações seguintes. Por exemplo, um avô que viveu a guerra, uma mãe que cresceu num ambiente de medo, ou uma avó que nunca pôde expressar a sua tristeza. Tudo isso pode influenciar, sem palavras, o modo como os descendentes percebem o mundo e se relacionam com as emoções.
Muitas vezes, em adultos poderemos viver conflitos internos, ansiedade, culpa excessiva ou dificuldades em estabelecer limites, sem perceber uma associação concreta destas dificuldades com a nossa história ou experiências de vida. Podemos deste modo acreditar que poderemos estar a repetir dinâmicas familiares antigas.
Podemos sentir, por exemplo:
· A necessidade de “cuidar de todos” para compensar uma dor familiar antiga;
· Dificuldade em ser feliz porque alguém da família sofreu muito;
· Medo de falhar ou de se destacar, por lealdade inconsciente aos pais;
· Padrões repetidos de relacionamentos desequilibrados;
· Bloqueios emocionais ou sensação de “carregar um peso que não nos pertence”.
Estes padrões não são fruto apenas da genética ou da educação, estão também ligados à transmissão emocional e simbólica entre gerações.
Quando um legado familiar é carregado sem consciência, pode limitar a liberdade emocional do adulto.
A pessoa sente-se dividida entre o desejo de seguir a sua própria vida e a lealdade invisível ao familiar que a transmitiu. Isso pode gerar instabilidade, sentimentos de culpa, baixa autoestima ou dificuldades até, em tomar decisões.
Ao reconhecer e compreender estas heranças, abre-se espaço para um movimento libertador: o de honrar o passado sem repeti-lo.
O trabalho terapêutico seja através da psicoterapia, do EMDR, de abordagens sistémicas, psicodinâmicas, ou outras, permite dar lugar à história que foi silenciada, compreender o que pertence a cada geração e diferenciar o que é “meu” do que é “dos outros”.Este processo traz clareza, alívio e maior estabilidade emocional.Curar o trauma transgeracional não significa apagar o passado, mas transformá-lo em consciência e força.
Compreender os legados familiares é uma forma de cuidar não só de nós, mas também das gerações futuras.
Ao darmos um novo significado ao que herdámos, interrompemos ciclos de dor e abrimos espaço para novas possibilidades de vida e de afeto.
Rita Sousa, Psicologa







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